domingo, 30 de novembro de 2008

Fé e política são as mesmas coisas?



Há anos que participo do Congresso Estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, que acontece no Centro de Formação Paulo Freyre, assentamento Normandia. Um fato curioso é que o período de realização do mesmo é entre os dias dez e quinze de dezembro, ou seja, acabo celebrando a data de meu aniversário sempre por lá.Em um desses dia do Congresso eu conheci pessoalmente Frei Betto, frei Franciscano, escritor e palestrante renomado internacionalmente, e, militante em causas sociais. Entre vários momentos, em um deles ele apresentou alguns mandamentos para que os seguidores de Jesus possam articular a sua fé com a militância política. E foi mais ou menos isso que falou: A fé e a política destinam-se ao mesmo objetivo: realizar o projeto de Deus na História (construir uma sociedade igualitária, sinal de seu Reino). Mas não são a mesma coisa, são diferentes. A vivência da fé, no nosso dia a dia, é necessariamente política. Quem afirma que não faz política ou é mentiroso (porque está fazendo) ou é sem-vergonha (porque diz isso para enganar alguém). Ficar de braços cruzados é apoiar quem está no poder. A fé é um dom que recebemos de Deus e exercemos junto com a “comunidade dos que crêem”. A política é uma ferramenta que exige aprendizado (nós não nascemos sabendo fazer política). Uma política contrária aos direitos do povo, faz da fé expressão de uma religião “ópio do povo” e esta religião só ajuda aos interesses dos opressores. A política é autônoma (ela pode existir sem fé), não depende da fé. Mas ela caminha necessariamente na direção do horizonte apontado pela fé (o Reino). Fé e política são coisas diferentes que se complementam na prática da vida. A fé dá sentido, a direção (é como um mapa). A política faz a estrada, constrói o caminho. A fé é “alimentada” na Igreja, onde é celebrada, anunciada e refletida. A política é melhor alimentada nas lutas pelos direitos do povo, que assumem a causa dos excluídos e oprimidos. Não devemos confundir a Igreja (espaço da explicitação da fé) com os espaços da política. Mas embora diferentes (no jeito de fazer), são complementares (uma orienta a outra). A política não deve ser feita em nome da fé, mas em nome do amor e da justiça do Reino.
A fé cristã contém valores que criticam e norteiam a atividade política. Os valores do Reino (partilha, solidariedade, serviço, ...) ajudam a política a ser mais verdadeira.A política é tanto mais popular, quanto mais a gente se encontra ligado à luta do povo. A fé é tanto mais evangélica quanto mais a gente se liga ao deus da Vida, através da comunidade cristã e de nosso testemunho no mundo.
Pois bem, foi um pequeno encontro, mas muitas lições absorvidas. Há cerca de dois anos conheci Alessandra. Assassinada recentemente, mas que também deixou na minha vida lições que espero não esquecer. Mas esse papo eu deixo para outra ocasião. Até lá!

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